domingo, 16 de agosto de 2009

A Libertação dos Ventos

Há muitos e muitos séculos, o mar era sempre cal­mo. . . Os ventos impetuosos, que agitam as ondas, viviam escondidos no fundo do mar, num grande palácio de cristal. Ali dançavam em torno de sua rainha, que se chamava por isso: Rosa dos Ventos.

Um dia uma andorinha, atra­vessando o mar, encontrou uma grande procelária, o pássaro que vive entre os escolhos, e lhe contou que os pássaros, na terra, fazem seus ni­nhos nas árvores.
- Oh! - disse a procelária - Isso me parece estranho. Como fazem?
Nisso, a andorinha, já havia ido embora. A procelária meditou so­bre as palavras da andorinha e disse para si mesma:
- Será que devo ser inferior aos pássaros terrestres? Será que somen­te eu devo fazer o ninho sobre as duras rochas?
E decidiu construir o ninho sobre uma árvore. Mas, como sempre vi­vera no mar, não conhecia nada além dos mastros dos navios. Estava per­suadida de que a andorinha fizera alusão a um daqueles mastros. Então pousou sobre o mastro do primeiro navio que passou, para fazer seu ni­nho, mas os marinheiros mandaram-na embora.

"Não há felicidade para os pássaros marinhos", pensou a procelária e retirou-se enfurecida.
Passou um segundo navio, O pássaro ali pousou, mas foi tocado e assim, na terceira vez, na quarta. .
A procelária estava terrivelmente irada. . . Tratarem daquele modo uma figura tão importante? Vingar-se-ia infalivelmente.
Sabia onde era o palácio dos ventos. No centro do oceano Pacífico desponta uma pequena cúpula de cristal. É a torre do palácio dos ventos. Ali pousou a procelária e piou fortemente.
- Quem pia? - gritou de baixo o vento oriental.
- Sou eu, a procelária.
- Que deseja?
- Queria falar com a rainha!
A rainha dos ventos está sempre de bom humor, portanto, não se fêz de rogada para surgir em meio ao mar, onde estava a procelária.
- Majestade, disse o pássaro, te­nho alimentado sempre muita ami­zade por vós. Trouxe sempre ao vosso palácio as notícias do mundo...
- Eu te agradeço...
- Agora quero dar-vos um conse­lho. O vosso palácio é certamente belo e principesco, mas deveis con­cordar que, quando daí não se sai mais, torna-se uma prisão. Vós e os vossos ventos podeis nadar como os peixes, voar como os pássaros, cami­nhar como os homens e, no entanto, estais sempre reclusos. Sai, gi­rai pelo mundo afora. Vereis cidades imensas, regiões alegres, sereis vene­rada e temida.
A Rosa dos Ventos, colocou a cabeça entre as mãos e conservou-se por alguns minutos, meditando.
- Tens razão, disse por fim. É verdade, somos uns grandes tolos a correr de cá para lá, como loucos, num pequeno espaço, todo santo dia. . .O imenso oceano será nosso palá­cio e o mundo o nosso reino. . . Até outra vista, procelária, obrigada pelo conselho.
Desde aquele dia os ventos do Norte, os ventos do Sul, os do Oriente e os do Ocidente, agitam os mares e os continentes, e sua rainha os envia para aqui e para ali.
E sobre as ondas, os grandes na­vios são rebentados como punhados de nozes; são atirados para se despe­daçarem sobre os escolhos.
Lá, onde a tempestade se enfure­ce, lá onde é maior o perigo, aparece a procelária e seu grito torna ainda mais sinistro o fragor da tormenta.
Portanto, onde o pássaro negro de longas asas aparece, ele é considerado sinal de tempesta­de, e é temido pelos marujos de to­dos os mares.
Esta é a lenda sobre a libertação dos ventos, cujas origens se perdem na noite do tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário