Há muitos e muitos séculos, o mar era sempre calmo. . . Os ventos impetuosos, que agitam as ondas, viviam escondidos no fundo do mar, num grande palácio de cristal. Ali dançavam em torno de sua rainha, que se chamava por isso: Rosa dos Ventos.
Um dia uma andorinha, atravessando o mar, encontrou uma grande procelária, o pássaro que vive entre os escolhos, e lhe contou que os pássaros, na terra, fazem seus ninhos nas árvores.
- Oh! - disse a procelária - Isso me parece estranho. Como fazem?
Nisso, a andorinha, já havia ido embora. A procelária meditou sobre as palavras da andorinha e disse para si mesma:
- Será que devo ser inferior aos pássaros terrestres? Será que somente eu devo fazer o ninho sobre as duras rochas?
E decidiu construir o ninho sobre uma árvore. Mas, como sempre vivera no mar, não conhecia nada além dos mastros dos navios. Estava persuadida de que a andorinha fizera alusão a um daqueles mastros. Então pousou sobre o mastro do primeiro navio que passou, para fazer seu ninho, mas os marinheiros mandaram-na embora.
"Não há felicidade para os pássaros marinhos", pensou a procelária e retirou-se enfurecida.
Passou um segundo navio, O pássaro ali pousou, mas foi tocado e assim, na terceira vez, na quarta. .
A procelária estava terrivelmente irada. . . Tratarem daquele modo uma figura tão importante? Vingar-se-ia infalivelmente.
Sabia onde era o palácio dos ventos. No centro do oceano Pacífico desponta uma pequena cúpula de cristal. É a torre do palácio dos ventos. Ali pousou a procelária e piou fortemente.
- Quem pia? - gritou de baixo o vento oriental.
- Sou eu, a procelária.
- Que deseja?
- Queria falar com a rainha!
A rainha dos ventos está sempre de bom humor, portanto, não se fêz de rogada para surgir em meio ao mar, onde estava a procelária.
- Majestade, disse o pássaro, tenho alimentado sempre muita amizade por vós. Trouxe sempre ao vosso palácio as notícias do mundo...
- Eu te agradeço...
- Agora quero dar-vos um conselho. O vosso palácio é certamente belo e principesco, mas deveis concordar que, quando daí não se sai mais, torna-se uma prisão. Vós e os vossos ventos podeis nadar como os peixes, voar como os pássaros, caminhar como os homens e, no entanto, estais sempre reclusos. Sai, girai pelo mundo afora. Vereis cidades imensas, regiões alegres, sereis venerada e temida.
A Rosa dos Ventos, colocou a cabeça entre as mãos e conservou-se por alguns minutos, meditando.
- Tens razão, disse por fim. É verdade, somos uns grandes tolos a correr de cá para lá, como loucos, num pequeno espaço, todo santo dia. . .O imenso oceano será nosso palácio e o mundo o nosso reino. . . Até outra vista, procelária, obrigada pelo conselho.
Desde aquele dia os ventos do Norte, os ventos do Sul, os do Oriente e os do Ocidente, agitam os mares e os continentes, e sua rainha os envia para aqui e para ali.
E sobre as ondas, os grandes navios são rebentados como punhados de nozes; são atirados para se despedaçarem sobre os escolhos.
Lá, onde a tempestade se enfurece, lá onde é maior o perigo, aparece a procelária e seu grito torna ainda mais sinistro o fragor da tormenta.
Portanto, onde o pássaro negro de longas asas aparece, ele é considerado sinal de tempestade, e é temido pelos marujos de todos os mares.
Esta é a lenda sobre a libertação dos ventos, cujas origens se perdem na noite do tempo.
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